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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Crônica da Cidade

Antônio Penteado Mendonça


No meio da tragédia representada pelas chuvas que castigam o país, vale ver que o brasileiro ainda é capaz de gestos largos, despendidos e profundamente humanos. Ao contrário da demagogia dos políticos que de panetone ao terremoto do Haiti, usam tudo para enganar o próximo o cidadão comum; anônimo e sem querer câmara ou alarde na hora do aperto está ali colocando a própria vida em risco para auxiliar o próximo.
É belo ver as cenas gravadas por câmeras amadoras mostrando essas pessoas se atirarem na correnteza infernal da rua transformada em rio para ajudar uma mulher presa dentro de um carro, outra arrastada pela enxurrada ou retirar uma criança que ficou presa dentre de casa ameaçada de desmoronamento. Nenhum espera vantagem. A ação, humana, encontra respaldo na história a da espécie, na solidariedade atávica, que permitiu ao grupo e seus integrantes evoluírem e melhorar suas condições de vida.
Ver o sorriso abrindo, a expressão até ali marcada pela angústia, pela dor e pelo sofrimento, nos faz sentir melhor. Nos faz parte de uma espécie única que num momento de maior risco, num instante da grande ameaça, se une, se funde numa massa sólida disposta a não entregar os pontos, a não se deixar vencer pela adversidade. E o elogio vale para os bombeiros e policias que se arriscam por dever do ofício, mas que nem por isso deixam de fazer sua parte com abnegação, dedicação e o orgulho do dever cumprido. Ainda bem que esse é o Brasil verdadeiro. É do fundo dele que vamos arrancar um país melhor.


(Antônio Penteado Mendonça na Rádio Eldorado, 08/02/2010)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Esperança - conotativo

Esperança

Mário Quintana


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

extraído do livro "Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118.

Esperança - denotativo

esperança
(esperar + -ança)

s. f.1. Disposição do espírito que induz a esperar que uma coisa se há-de!há de realizar ou suceder.
2. Expectativa.
3. Coisa que se espera.
4. Confiança.
5. Relig. Uma das virtudes teologais.
6. Dar esperanças: estar prometedor, animar com esperanças.
7. Estar ou andar de esperança: estar no período de gravidez (só se diz da mulher)

esperançar - Conjugar

v. tr.1. Dar esperanças a.
v. pron.2. Conceber esperanças; confiar.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Os habitantes de StiltsVille - As Cidades da estacas (Max Lucado)

Talvez você não saiba,
ou talvez sim,
Sobre o vilarejo de Stiville,
(estranho mas é verdade)

Onde pessoas como nós,
Algumas baixas, algumas altas,
Com empregos e filhos
E relógios na parede

Ficam de olho na hora.
Pois cada noite às seis,
Eles se encontram na praça
Por causa de estacas,

Altas e na quais
Os habitantes podem confiar
E se elevar acima
Daqueles no chão:

Os que são menos.
A Tribo dos Pequenos,
Os chatos e os que não têm
Que querem ser altos

Mas não pode, porque
Na distribuição das estacas,
Seu nome não foi chamado.
Eles não foram escolhidos.

No entanto eles vêm
Quando os habitantes e reúnem;
Eles se amontoam na frente
Para ver se têm importância

Para a panelinha dos legais,
A corte de grande influência,
Que decide quem é especial
E declara com um grito,

"Você tem classe!" "Você é bonito!"
"Você é inteligente" ou "Engrado!"
e dão um prêmio,
não de medalhas ou dinheiro,

não uma torta fresquinha
ou uma casa que alguém construiu,
mas o mais estranho dos presente -
algumas estacas.

Subir é sua missão,
Ir para o alto é seu objetivo
"Eleve sua posição"
é o nome de seu jogo.

Os que estão no alto em Stiltsville
(você já sabe se já tiver estado lá)
fazem a maior comoção
da doçura do ar rarefeito.

Eles saboreiam a chance
Em seus altos aparatos
De se exibir suas estacas,
o status definitivo.

Pois a vida não é melhor
Quanto vista de cima?
A não ser que você tropece
E de repente não tenha mais

certezaa de onde se encontra.
Você se balança e depois se inclina.
"Cuidado aí embaaaaaaaaaaaaaaaaaaaixo!"
e cai imediatamente

nos Pequenos,
a gentalha da Terra.
Você aterrissa no seu orgulho -
E, nossa, como dói

quando a polícia chique,
na rejeição das rejeições,
não oferece ajuda,
e em vez disso toma suas estacas.

"Quem lhe fez rei?"
você começa a reclamar
mas então nota a hora
e para de reclamar.

São quase seis horas!
Não dá tempo para conversa fiada.
De volta à multidão
para ver se você tem importância.

Continua...
Sabe porque Ele amo a tanto você? Pelo mesmo motivo pelo qual o artista ama seus quadros ou o construtor de barcos ama seus barcos. Você é ideia dEle - na verdade, a Sua maior ideia. "Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos" (Efésios 2:10).


Os habitantes de Stiltsville ainda se reúnem,
E as multidões ainda clamam,
Mas mais pessoas se afastam.
Elas parecem menos encantadas

desde que o Carpinteiro veio
e se recusou a ficar sobre estacas.
Escolheu ficar embaixo ao invès de no alto.
consertou o sistema.

" Você já é importante".
ele explicou para a cidade.
"Acredite em mim.
Fique com os pés no chão."


Texto do livro Sem Medo de viver de Max Lucado.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

As ovelinhas

As ovelinhas
(Sérgio Capparelli)

Nasce o sol na neblina
e mamãe está lá fora ainda.

A trilha entre os barracos
dá barulhos de tiros.

Os edifícios lá longe
são varejeiras de vidro.

E as ovelhinhas do medo
estão sozinhas balindo.

Traças de regime

(Sérgio Capparalli)


As traças gostam de suspense:
lêem com cuidado
e de olhos fechados.

Se estão com pressa,
come sanduiches de escritores importantes,
Cecília Meireles, Lígia Bojunga,
Hesíodo e os deuses gregos.

Elas dão conselhos
" As histórias lacrimejantes são melhores
porque facilitam a digestão",

E estamos conversados!

Traças iletradas são sem cerimônia:
comem heróis, heroínas, enredos,
e no fim devoram o autor.

Ah, as traças, como evitá-las?
Comem Mário Quintana, devoram os dois Veríssimos
(pai e filho)
e, de sobremesa, emcomendam escritores bem românticos.

Olha, lá vai uma arroatndo Lobato.


Cometário meu:

Colequei esse poema porque estou indignada com o caso dos livros jogados no lixo.
Vou fazer um prejto de lei que dará prisão perpétua para que estragar, sujar, queimar ou inutilizar livro.
Amanhã eu falo mais sobre isso.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Crônica de um ônibus lotado

Cinco horas da manhã.
Ainda é noite e eles vão chegando de vagar.
Chega uma menininha loira, mirrada, MP3 no ouvido, cara de sono, livros nas mãos.
Depois chega um senhor engravatado e com uma pasta preta. Cara de executivo. Ele não deveria está ali.Ou deveria?
Uma senhora com coque no cabelo chega com sacolas plásticas nas mãos. As rugas dizem que está entre os 45 ou 50. Os olhos dizem que está na casa dos trinta.
Muitos outros vão chegando, mãos nos bolsos, cabeças nos travesseiros.
Todos vão entrando, procuram o melhor lugar para ver o espetáculo.
Então o show começa no horizonte seco do cerrado.
Alguns espíritos cansados não ligam mais, porém para os jovens (de espírito e não de idade) ele é a confirmação da esperança anciã.
Quem foi mesmo que disse que assistir o nascer do sol é programa de gente rica?