
Educação encurta distâncias
(Danielle Costa)
Sempre dizemos que o mundo está indo de mal a pior, que a humanidade se corrompeu que ninguém mais tem educação e blá, blá, blá. Esses discursos demagógicos que fazemos quando algo nos dá errado e precisamos desesperadamente jogar a culpa em qualquer um. O que realmente não enxergamos é que o curso que o mundo toma depende muitas vezes de nós e que as coisas darem erradas ou não dependem também do nosso ponto de vista.
Esse pensamento me veio à cabeça depois de uma mudança no trabalho. Sou estagiária de jornalismo e meu turno era de quatro horas diárias, mas há umas duas semanas mudei para seis horas, motivo pelo qual passei a voltar para a casa no ônibus das 14 horas invês da linha costumeira do meio dia. E veja como o ser humano (no caso eu) é. No primeiro dia, assim que peguei o ônibus já fui resmungado, “nossa o motorista é logo o Seu Luis, vou chegar em casa lá pelas cinco”. Meu mau humor nem me deixou notar o simpático Boa Tarde que o motorista me deu.
E assim foi o resto da semana. Como moro em Brazlândia, umas das cidades satélites do DF carinhosamente chamada de O reino de Tão, Tão Distante, chego em casa por volta das quatro horas. Culpa da distância e tenho que dizer, culpa também do Seu Luis. Acontece que o percurso que normalmente é feito em uma hora e vinte minutos, Seu Luiz leva mais de duas horas. Não sou só eu, já vi muitos passageiros resmungando e até xingando o pobre motorista para que ele acelere. E ele? Nem aí. Esse senhor de meia idade não se incomoda com as lamurias dos passageiros, e ao contrário do que pensamos, não fica com raiva das reclamações, ao invés disso, sempre nos recebe com um simpático Boa Tarde e um sorriso afetuoso.
Aqui tenho que fazer um adendo. Seu Luiz é uma espécie em extinção, levando em consideração a falta de educação e mau humor dos outros motoristas, que aceleram mais, porém nos tratam como lixo. Já presencie cenas em que o motorista arranca antes do passageiro terminar de descer, não pára para os idosos e dirigem de forma irresponsável, deixando todos os passageiros em perigo.
Pois bem, só depois de alguns dias passei a notar a amabilidade do lento motorista. Passei a notar que não importa se o passageiro é freqüente (aquele embarga no todo o dia no mesmo horário) ou não, ele sempre tem um sorriso bondoso para todos e trata a todos de forma cordial. Notei que para ele não importa o tempo ou a velocidade que ele passa, mas sim a qualidade dos momentos que vive, mesmos que esses momentos sejam dirigindo um coletivo lotado. Essa constatação fez com a que interminável viagem da Asa Norte até “Brazlonge”, ficasse menor. Bom, menor não. Mas pelo menos mais agradável.
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