
Crônicas da cidade
Antonio Penteado Mendonça
Teu sorriso tem qualquer coisa de mágico.
Na época em que as agulhas imantadas ainda não eram cientificamente compreendidas
e apontar sempre na direção da estrela mais brilhante tinha que ter uma explicação divina.
Teu sorriso atrai meus olhos com a força do imã puxando para si um pedaço de ferro.
Mas ele é generoso e ao contrário do imã, reflete os meus olhos para dentro de teus olhos.
Se teu sorriso é mágico, teus olhos são as portas do paraíso.
A certeza da busca pela pedra filosofal.
A possibilidade de todas as possibilidades numa promessa cálida e amiga.
Teus olhos transformam granito em ouro
e ele se espalha rico e denso no brilho profundo que sorrir com tua boca.
Que sei eu de teus olhos?
Eles me engolem.
Me orientam à concentração,
mudam o foco,
fazem mais ricas as flores dos ipês balançando calmas na brisa do pré-começo de primavera.
Você é a deusa da primavera.
Teu sorriso e teus olhos são as chaves com que você abre a porta do esconderijo do céu
e retira dele a estação das flores, dos dias amenos e das tarde gostosas.
Você é a aurora despertando o canto dos sabiás
que tomam de assalto as madrugadas quando ainda é noite
e só um vago clarão começa cortar o horizonte baixo.
Você é o encantamento dos contos de fadas,
a mostrar que as fadas existem e que as histórias de princesas maravilhosas e rainhas más
são tão verdadeiras quanto a falta de certeza dos nossos dias.
Você é a cor do dia invadindo a sala.
A espera materializada.
O avesso feito direito.
Um pedacinho da felicidade dos anjos.