Antônio Penteado Mendonça
No meio da tragédia representada pelas chuvas que castigam o país, vale ver que o brasileiro ainda é capaz de gestos largos, despendidos e profundamente humanos. Ao contrário da demagogia dos políticos que de panetone ao terremoto do Haiti, usam tudo para enganar o próximo o cidadão comum; anônimo e sem querer câmara ou alarde na hora do aperto está ali colocando a própria vida em risco para auxiliar o próximo.
É belo ver as cenas gravadas por câmeras amadoras mostrando essas pessoas se atirarem na correnteza infernal da rua transformada em rio para ajudar uma mulher presa dentro de um carro, outra arrastada pela enxurrada ou retirar uma criança que ficou presa dentre de casa ameaçada de desmoronamento. Nenhum espera vantagem. A ação, humana, encontra respaldo na história a da espécie, na solidariedade atávica, que permitiu ao grupo e seus integrantes evoluírem e melhorar suas condições de vida.
Ver o sorriso abrindo, a expressão até ali marcada pela angústia, pela dor e pelo sofrimento, nos faz sentir melhor. Nos faz parte de uma espécie única que num momento de maior risco, num instante da grande ameaça, se une, se funde numa massa sólida disposta a não entregar os pontos, a não se deixar vencer pela adversidade. E o elogio vale para os bombeiros e policias que se arriscam por dever do ofício, mas que nem por isso deixam de fazer sua parte com abnegação, dedicação e o orgulho do dever cumprido. Ainda bem que esse é o Brasil verdadeiro. É do fundo dele que vamos arrancar um país melhor.
(Antônio Penteado Mendonça na Rádio Eldorado, 08/02/2010)